sábado, 17 de outubro de 2009

Sequestro Motivacional

Eu já tinha uma certa desconfiança disto, mas desta vez, mais atento a todos os reflexos, como um pesquisador observa sua cobaia em um experimento científico, constatei o efeito neutralizador do desejo de emagrecer, provocado pela ansiedade.
De uma forma imperceptível, a ansiedade cresce, provocada por circunstâncias alheias à própria vontade. É como uma anestesia em doses homeopáticas, que vão sedando a motivação de continuar avançando nos propósitos definidos de perda de peso.
Por mais que exista uma definição concreta no conhecimento dos benefícios de avançar emagrecendo, e dos prejuízos em estabilizar ou retroceder no processo, a mente parece que fica boba e insensível aos apelos do propósito. Eu chamaria estes momentos de "sequestro motivacional", que é quando as preocupações com o momento, ou o futuro, impõe um desvio da atenção e prioridades para os fatos em questão. É aí que o Gordo se aproveita.  Furtivamente, como se perdesse-mos o controle da própria sombra, ele se manifesta com liberdade para compensar a dor da ansiedade com comida. Ficamos amarrados, e assistimos a festa da intemperança, não com conivência, auto-piedade ou cumplicidade, mas com uma sensação de profunda impotência diante das circunstâncias. Já vi este filme inúmeras vezes, e não será a última vez que terei ansiedade por algum problema real ou imaginário.
Agora tudo é diferente, pois conhecer as estratégias do Gordo é o início da resolução dos problemas. Se a ansiedade me anestesia, e me faz focar nas soluções ou conseqüências dos problemas cotidianos, tirando minha prioridade da meta de emagrecer, ou não engordar, eu aumento a visibilidade do Gordo, como se expusesse a vergonha do seu egoísmo, imprudência e instabilidade. Posso fazer isto através do Blog, da conversa com amigos, médico, conjuge ou quaquer meio que dê visibilidade ao fato.  Quanto mais claro ficar a exposição da fraqueza, mais constrangimento se impõe a manifestação do Gordo, afinal, a estratégia dele é não ser visto, e quanto mais exposto, mais evidente fica a sua culpa. E culpa é suave quando é privada. Somos muito orgulhosos para encarar a culpa pública. Portanto, não tenho mais medo de admitir fraquezas, mas faço disto uma ferramenta de auto-constrangimento, e isso é melhor do que ficar amarrado dentro de um cativeiro mental, enquanto o Gordo negocia o resgate em calorias.

domingo, 11 de outubro de 2009

Forca de Vontade (A falta do cedilha não é erro ortográfico)

Já há tempo, eu queria abordar um assunto que me fez queimar muitos dos meus gordos neurônios -- A força de Vontade.
Posso entender a necessidade de se identificar o esforço para provocar uma mudança com um título de "efeito metafórico". "Força de Vontade" exibe uma metáfora para a ação engendrada pelo desejo de mudar. Mas o que me faz refletir, é que não consigo conceber força que se possa fazer, sem desejar o suficiente. Para mim, a intensidade da vontade é totalmente proporcional a do desejo. Não há força psicológica sem motivos, portanto: mudança = vontade = desejo = motivos.
Se não houver uma sustentação da base da vontade, com motivos substanciais ou sensibilizadores, menor será o desejo, a vontade, e a mudança.
Tenho provocado a minha base emocional com conhecimentos, que ao contrário de demonstrarem força, estão demonstrando novas perspectivas de motivação.
Eu resumiria esta experiência ao exemplo de uma pessoa que, uma vez mudando para outra cultura, se vê obrigada a admitir mudanças para sustentar o relacionamento social e profissional. Ela precisa destruir conceitos e eliminar pré-conceitos, antes de conseguir promover mudanças de comportamento.
Enfim, em que você acredita, é o lhe move à ação. Alguns mudam, outros morrem. É uma escolha.
Fico com pena das pessoas que vivem de frustração em frustração, se lançando ao efeito metafórico da "força de vontade". Muito cedo descobrem que sua base de motivação é insustentável, e não desejam a mudança suficientemente como pensam querer. A não ser que deixem a hipocrisia de lado, terão que reconstruir a base da vontade com novas motivações, fortes o suficiente para a mudança que afirmam querer, ou aceitar que, o que querem mesmo, é que tudo fique como está.    

sábado, 3 de outubro de 2009

É uma Droga!

Augusto Cury foi muito feliz em associar as emoções às drogas, em seu livro "Vencendo o Cárcere da Emoção". 
Quando você experimenta uma forte emoção, que provoque sensações de prazer ou dor, ficam marcadas no seu subconsciente as lembranças deste momento, com todas as suas nuances. Sejam as lembranças de sensações entorpecedoras ou estimulantes, de imagens vistas com outros olhos, da sensibilidade sob a pele ou do sabor sobre a língua, dos aromas e odores excitantes, da harmonia do silêncio e dos sons, não importa, ficam marcadas como se fossem endereços digitais, que podem ser acessados, ou por vontade própria ou executados por um tipo de vírus neural.
Quando na quinta feira, passei por uma grande tensão, eu acabei não me preocupando mais com os detalhes da minha dieta. Não que tenha pensado em comida não saudável, pelo menos inicialmente. Mas estava profundamente ansioso com alguns problemas no trabalho. Pois justamente esta noite, já em casa, soube que minha esposa iria para casa da minha filha. Não que eu seja tão sensível a solidão, mas pelo meu histórico, é aí que algumas coisas estranhas acontecem. Não sei se é uma manifestação da sensação de liberdade de expressão doméstica (afinal, quem está olhando?), ou uma vitimação por abandono (típico da depressão). Eu sei é que procurei algo para comer, e fiz cinco almôndegas de Quinoa, com um molho de ricota e ervas. Até aí, tudo bem! Mas quando procurei algo no armário, vi uma lata de leite condensado lá no fundo. Minhas mãos ficaram atrapalhadas e bati a porta do armário, torcendo para que tais pensamentos fossem exorcizados. Fui para a sala, e tentei prestar atenção em algum programa que nem lembro o nome, e a imagem recorrente da lata de leite condensado não me deixava sequer prestar atenção a TV. Comecei a me lembrar dos doces de leite de panela de pressão, tão simples de fazer, e tão deliciosos, tão irresistíveis, tão... tão... tão...
O que aconteceu a seguir, é que quando voltei os meus pensamentos à realidade, já estava com uma vasilha vazia e lambida de doce de leite no colo, uma sensação de surpresa e arrependimento na mente, uma lata de leite condensado malocada no fundo da lata de lixo, e a panela lavada. Mas onde estava o Gordo? O cretino fugiu! Certamente me deu uma dose de "boa noite cinderela", para armar mais um dos seus golpes. Eu me sentia como um dependente químico que pulou o muro da clínica de tratamento de desintoxicação, e agora voltava arrependido da sua "viagem". Mas culpar a quem? Tal como a droga adicção, a dependência alimentar, no seu lado psicológico, é baseada nas lembranças do prazer experimentado no passado, e na possibilidade de, re-experimentando este prazer, estimular a mente a protelar no enfrentamento da nossa realidade.
Eu sei que não posso deixar isto ocorrer novamente, e vou ficar esperto na próxima crise.
Mas a boa notícia é que, mesmo com tudo isto, cheguei aos 128 kg, e o meu resumo é o seguinte:

Peso Inicial 142 Kg
Peso perdido 14 Kg
Hoje 128 Kg
Meta 1ª fase 128 Kg até Dezembro 2009 Detonada
Meta 2ª fase 110 Kg até Dezembro de 2009 (nova data)
Meta Final 90 Kg em Julho de 2010, sem mais latas escondidas.